terça-feira, novembro 20, 2007

:: Gente de outro ver ::.

Extractos do livro com o mesmo nome
José João Marques Pais
josejoaomarquespais@oninet.pt

“Gente de outro ver” conta a história política da vila de Alpiarça, desde as lutas entre liberais e absolutistas, passando pela propaganda republicana, que aqui tem um desenvolvimento adequado à importância que José Relvas e a população de Alpiarça tiveram no êxito do Partido Republicano que viria a ter a sua expressão máxima na caminhada vitoriosa de 5 de Outubro de 1910.
Seguem-se as primeiras lutas organizadas das pessoas que trabalhavam na terra e que pretendem que os homens do 5 de Outubro de 1910 cumpram as promessas de melhores dias para as classes mais desfavorecidas. Dessa consciência de classe nasce a criação da Associação dos Trabalhadores Rurais de Alpiarça em 1912, cujo principal dirigente foi José Nunes Cebola que viria a conduzir a sua Associação no 1ª Congresso dos Trabalhadores Rurais e estaria na linha da frente quando é criada a Federação dos Trabalhadores Rurais com sede em Évora.
As dificuldades da 1ª Grande Guerra Mundial e a indigitação de José Relvas para presidir ao governo da República são temas que prendem também a atenção do leitor, para se embrenhar logo a seguir na turbulência do anarco-sindicalismo que em Alpiarça teve o seu mentor principal na figura de António Nunes Canha. A Morte do Tenente da GNR, José Serafim da Fonseca, é um caso intrigante que apaixonou a opinião pública de Alpiarça, do Ribatejo e de todo o país, mercê das reportagens diárias que fizeram os repórteres do Diário de Notícias e do Século. Este acontecimento que ocorre em 1921, nunca foi completamente clarificado, tendo neste livro um grande desenvolvimento, que acaba por reflectir a luta de classes que então se desenvolvia um pouco por todo o país, bem como a turbulência política que então se vivia que conduziu à morte de políticos importantes como foi o caso de António Granjo e Machado Santos, um dos heróis do 5 de Outubro de 1910.
A morte de Alfredo Lima em plena luta por melhores salários durante a Praça de Jorna efectuada em 4 de Junho de 1950 e o misterioso assassinato de Manuel Vital, que havia sido um destacado “funcionário” do Partido Comunista Português, que também encontrou a morte através de balas assassinas em 18 de Novembro de 1950, terão aqui uma atenção especial e muito desenvolvida, trazendo novas pistas sobre o que aconteceu em ambos os casos.
Capítulos repletos de interesse não faltarão, relatando os grandes acontecimentos ocorridos em Alpiarça e no Ribatejo, desde a formação do MUD e MUD juvenil em 1946, onde se destaca a acção de Soeiro Pereira Gomes, Carlos Pinhão, Saúl Leal e outros, que estão na génese das grandes lutas de 1944/45 e na formação daqueles movimentos oposicionistas e que irão servir de suporte para a candidatura a Presidente da República ao General Norton de Matos; o caso dos rendeiros da Gouxa que começou em 1944, onde se destaca a acção do Dr. Castelão de Almeida em defesa dos rendeiros contra o decreto-lei que integrava as suas terras no regime florestal, o que equivalia à morte da exploração agrícola tal como ela se apresentava; as greves, manifestações, eleições e nestas merecem especial relevo as presidências de 1958, a que concorreu Humberto Delgado, que venceu com 82% dos votos em Alpiarça, bem como as legislativas de 61, 69 e 73, onde a população de Alpiarça tem um papel decisivo, pois aqui se realizaram comícios oposicionistas grandiosos, com intervenções apaixonadas perante o olhar e a acção ameaçadora dos elementos da polícia política PIDE/DGS.
A acção repressiva da PIDE sobre os elementos comunistas de Alpiarça, sobretudo depois das greves de 59, mas muito especialmente em 1961, quando são detidos 31 habitantes desta terra; toda a emoção da morte de Maria Albertina em 1964, ocorrida na clandestinidade e cujo funeral foi uma impressionante manifestação de pesar de toda a população. Segue-se o Congresso da Oposição Democrática em 1973 com intervenção de muita gente de Alpiarça, culminando na presença de Manuel Colhe, um trabalhador rural de Alpiarça, na mesa de honra do Congresso e se consubstanciou na apresentação, por uma comissão de rurais, numa Tese apresentada à discussão do Congresso sobre os problemas do trabalhadores rurais de Alpiarça e que é transcrita integralmente num dos anexos do livro; as grandes greves de 1973 é outro dos temas abordados, onde se relatam todas as movimentações que ocorreram no seio dos trabalhadores, dos proprietários e que finaliza com um acordo entre as partes envolvidas, numa reunião que tem lugar em Santarém.
Será apresentada, em anexo, uma lista dos presos políticos de Alpiarça; falar-se-à de temas tão diversos como a Praça de Jorna e das sugestões apresentadas por Soeiro Pereira Gomes para as organizar politicamente; ou sobre os prisioneiros da Índia naturais de Alpiarça e dos primeiros militares que partiram para Angola. No entanto as figuras centrais do livro são as pessoas de Alpiarça, cujos nomes vêm agora à luz do dia, como forma de as homenagear pela acção e intervenção que tiveram, lutando por ideais, muitas delas, talvez a maior parte, mantiveram-se no anonimato, características comuns às pessoas cuja acção é relevante, algumas das quais ainda estão vivas revendo-se agora neste livro, em movimentações de grande perigo para a sua segurança, mas que revelavam a estirpe desta gente. Era na verdade “Gente de outro ver”.
Serão abordados muitos casos que tiveram a intervenção de pessoas que tiveram uma militância partidária mais intensa, como Saúl Leal, Leocádio do Vale, António João Pereira Centeio, Gabriel Feijão Coelho, António Jorge, Carlos Pinhão, José Pinhão, Manuel Colhe, Olímpio Oliveira, António Marto, António Abalada, Josué Pangaia, Francisco Presúncia Bonifácio, João Gaspar e muitos, muitos outros, mas também de oposicionistas não tão vinculados a partidos, casos do Dr. Hermínio Paciência, Renato Pinhão, Abel Pinhão e João Catarino Duarte.
Iremos também “assistir” aos conflitos surgidos entre o Dr. Raul Neves, Presidente da Câmara, com evidentes preocupações sociais e humanas e o Sargento Pires, comandante do Posto da GNR, num confronto que iria marcar momentos de grande tensão em Alpiarça.
É um livro repleto de histórias, muitas delas completamente ignoradas ou esquecidas e que o autor traz à recordação dos mais velhos e ao conhecimento dos mais novos.
Estou certo que este livro representa um marco importante para que a gente nova conheça a história dos seus antepassados e dos acontecimentos em que estiveram envolvidos.
A crítica tem sido positiva, mesmo a de nível nacional recomenda a leitura, como se pode ler pela crítica inserta no Diário de Notícias de 18 de Junho de 2005, onde se chama a atenção para o contributo que este tipo de livros dão para o esclarecimento da história local.

4 comentários:

Luis Eme disse...

De certeza que é um livro muito importante, especialmente para os habitantes e naturais de Alpiarça.

Já agora, Ana Paula, qual é o nome que se dá à gente de Alpiarça?

(estive quase para escrever alpiarcenses, mas não me soou bem...)

abraço

Joaquim Moedas Duarte disse...

Quando há semanas passei por Alpiarça, procurei comprar este livro mas disseram-me que estava esgotado. Fiquei triste. Trouxe apenas o livro sobre a Igreja e o da história do ciclismo alpiarcense.
Entretanto uma pessoa amiga disse-me que já me tinha arranjado o livro sobre Rafael Duque, homem de nomeada da Chamusca, ( e para quem a minha avó materna, natural daquela terra, trabalhou ums anos como cozinheira, recordações de que ela falava muitas vezes).
Pensa-se numa segunda edição?
Gostava muito de ter esse livro.

Sobre os habitantes de Alpiarça, pergunta uma amiga como se chamam.
Eu sempre ouvi dizer que eram "alpiarcenses" ou "alpiarçoilos" (desta não gosto!). Estarei enganado?

Beijinho conterrâneo, Ana Paula!

Paúl dos Patudos disse...

Olá amigos
Estão certos, os naturais de Alpiarça chamam-se ALPIARCENSES.Eu sou alpiarcense, nasci , cresci, casei e moro em Alpiarça.À 46 anos que aqui estou e penso que nunca daqui irei sair...
Abraço e fiquem bem
Ana Paula

Paúl dos Patudos disse...

méon
É verdade está esgotado , mas sei que outra edição vem a caminho, pois há muita gente que ainda não o tem e quer adquirir.
bom-fim-de-semama
Ana Paula