sexta-feira, março 20, 2009

21 DE MARÇO / DIA MUNDIAL DA POESIA







se um dia eu não souber dizer o teu nome

se um dia eu o esquecer

e a saliva se cristalizar no zelo

se um dia eu não te achar

e no entanto te procurar

com desespero

um dia e tu não estiveres

se um dia a minha boca não alargar

e as minhas mãos não se fecharem

e abanarem

se um dia eu me sentar no pó

e o pó se sentar em cima de mim

e eu arquejar

se um dia eu deixar de esperar não sei bem o quê

e me quedar à espera de que a espera acabe

um dia as palavras me atravessem e

eu já não souber a beleza delas

e o perfume

se um dia tudo o que for for

a mais

e o resto

e dizer não seja justificar

se um dia eu voltar a ler isto

e isto tiver um sentido

se num dia eu fechar os olhos e ao fechar

os olhos o teu rosto

não

não aparecer definido

definitivo

e ao pestanejar

a sucessão de imagens for

alternante de preto com preto

preto



preto

se um dia a noite seja de pedra

for os meus olhos camuflados então

sólidos

liquefeitos

se um dia as lágrimas correrem devagar

e secarem no caminho e

cavarem fendas

e

a minha pele seja de água

e dos pulmões não nascerem guelras

e sufocar

se do fundo

se no fundo

fundo

bem lá no fundo

eu

um dia

não te souber nomear

vou fechar os olhos gritar

Amor

e esperar que

onde estiveres

reconheças

o nome que te escolhi muito antes de nasceres

quando eu era aquela parte

que arrancaram de ti

e tu



eras a amante de narciso


Autor: João Moita ( poeta alpiarcense)

1 comentário:

Paula Raposo disse...

Obrigada pela partilha de tão magnífico poema!! Adorei. Beijos para o Poeta e para ti, Ana Paula.