sábado, novembro 24, 2007

ENFIM, O OUTONO CHEGOU...














É com tudo isto que nos devemos preocupar e não com futilidades, o Planeta precisa da nossa atenção e carinho.
Fiquem bem
Ana Paula

quinta-feira, novembro 22, 2007

ALERTA DOS ANIMAIS PARA O HOMEM: SALVEM O NOSSO PLANETA!!
Mais uma vez fiquei chocada com este cenário horrível. Porque será que estes animais maravilhosos estão a cometer tal acto : suicídio colectivo?? Na minha opinião muito simples: é uma resposta dada ao Homem pelas atrocidades que têm sido praticadas a estes bondosos seres que habitam este Planeta. Mais uma lição de vida dada pelos animais, ao Homem que tem a mania e a arrogância de pensar que é um ser superior, mas que só faz asneira!
O meu coração está com este animais MARAVILHOSOS.
Ana Paula

quarta-feira, novembro 21, 2007


senti cada palavra, como se não houvesse amanhã...
Ana Carolina de voz forte e melodiosa, vinda do outro lado do Oceano.

Gosto desta dupla de vozes, gosto mesmo!

terça-feira, novembro 20, 2007


Neste livro é contada toda a história sobre a vida política do povo de Alpiarça , que José João Pais , sendo um alentejano a viver à muitos anos no Ribatejo, mais propriamente em Alpiarça, sentiu que havia uma lacuna e pôs mão à obra . Depois de muita investigação e dedicação a obra nasceu.
:: Gente de outro ver ::.

Extractos do livro com o mesmo nome
José João Marques Pais
josejoaomarquespais@oninet.pt

“Gente de outro ver” conta a história política da vila de Alpiarça, desde as lutas entre liberais e absolutistas, passando pela propaganda republicana, que aqui tem um desenvolvimento adequado à importância que José Relvas e a população de Alpiarça tiveram no êxito do Partido Republicano que viria a ter a sua expressão máxima na caminhada vitoriosa de 5 de Outubro de 1910.
Seguem-se as primeiras lutas organizadas das pessoas que trabalhavam na terra e que pretendem que os homens do 5 de Outubro de 1910 cumpram as promessas de melhores dias para as classes mais desfavorecidas. Dessa consciência de classe nasce a criação da Associação dos Trabalhadores Rurais de Alpiarça em 1912, cujo principal dirigente foi José Nunes Cebola que viria a conduzir a sua Associação no 1ª Congresso dos Trabalhadores Rurais e estaria na linha da frente quando é criada a Federação dos Trabalhadores Rurais com sede em Évora.
As dificuldades da 1ª Grande Guerra Mundial e a indigitação de José Relvas para presidir ao governo da República são temas que prendem também a atenção do leitor, para se embrenhar logo a seguir na turbulência do anarco-sindicalismo que em Alpiarça teve o seu mentor principal na figura de António Nunes Canha. A Morte do Tenente da GNR, José Serafim da Fonseca, é um caso intrigante que apaixonou a opinião pública de Alpiarça, do Ribatejo e de todo o país, mercê das reportagens diárias que fizeram os repórteres do Diário de Notícias e do Século. Este acontecimento que ocorre em 1921, nunca foi completamente clarificado, tendo neste livro um grande desenvolvimento, que acaba por reflectir a luta de classes que então se desenvolvia um pouco por todo o país, bem como a turbulência política que então se vivia que conduziu à morte de políticos importantes como foi o caso de António Granjo e Machado Santos, um dos heróis do 5 de Outubro de 1910.
A morte de Alfredo Lima em plena luta por melhores salários durante a Praça de Jorna efectuada em 4 de Junho de 1950 e o misterioso assassinato de Manuel Vital, que havia sido um destacado “funcionário” do Partido Comunista Português, que também encontrou a morte através de balas assassinas em 18 de Novembro de 1950, terão aqui uma atenção especial e muito desenvolvida, trazendo novas pistas sobre o que aconteceu em ambos os casos.
Capítulos repletos de interesse não faltarão, relatando os grandes acontecimentos ocorridos em Alpiarça e no Ribatejo, desde a formação do MUD e MUD juvenil em 1946, onde se destaca a acção de Soeiro Pereira Gomes, Carlos Pinhão, Saúl Leal e outros, que estão na génese das grandes lutas de 1944/45 e na formação daqueles movimentos oposicionistas e que irão servir de suporte para a candidatura a Presidente da República ao General Norton de Matos; o caso dos rendeiros da Gouxa que começou em 1944, onde se destaca a acção do Dr. Castelão de Almeida em defesa dos rendeiros contra o decreto-lei que integrava as suas terras no regime florestal, o que equivalia à morte da exploração agrícola tal como ela se apresentava; as greves, manifestações, eleições e nestas merecem especial relevo as presidências de 1958, a que concorreu Humberto Delgado, que venceu com 82% dos votos em Alpiarça, bem como as legislativas de 61, 69 e 73, onde a população de Alpiarça tem um papel decisivo, pois aqui se realizaram comícios oposicionistas grandiosos, com intervenções apaixonadas perante o olhar e a acção ameaçadora dos elementos da polícia política PIDE/DGS.
A acção repressiva da PIDE sobre os elementos comunistas de Alpiarça, sobretudo depois das greves de 59, mas muito especialmente em 1961, quando são detidos 31 habitantes desta terra; toda a emoção da morte de Maria Albertina em 1964, ocorrida na clandestinidade e cujo funeral foi uma impressionante manifestação de pesar de toda a população. Segue-se o Congresso da Oposição Democrática em 1973 com intervenção de muita gente de Alpiarça, culminando na presença de Manuel Colhe, um trabalhador rural de Alpiarça, na mesa de honra do Congresso e se consubstanciou na apresentação, por uma comissão de rurais, numa Tese apresentada à discussão do Congresso sobre os problemas do trabalhadores rurais de Alpiarça e que é transcrita integralmente num dos anexos do livro; as grandes greves de 1973 é outro dos temas abordados, onde se relatam todas as movimentações que ocorreram no seio dos trabalhadores, dos proprietários e que finaliza com um acordo entre as partes envolvidas, numa reunião que tem lugar em Santarém.
Será apresentada, em anexo, uma lista dos presos políticos de Alpiarça; falar-se-à de temas tão diversos como a Praça de Jorna e das sugestões apresentadas por Soeiro Pereira Gomes para as organizar politicamente; ou sobre os prisioneiros da Índia naturais de Alpiarça e dos primeiros militares que partiram para Angola. No entanto as figuras centrais do livro são as pessoas de Alpiarça, cujos nomes vêm agora à luz do dia, como forma de as homenagear pela acção e intervenção que tiveram, lutando por ideais, muitas delas, talvez a maior parte, mantiveram-se no anonimato, características comuns às pessoas cuja acção é relevante, algumas das quais ainda estão vivas revendo-se agora neste livro, em movimentações de grande perigo para a sua segurança, mas que revelavam a estirpe desta gente. Era na verdade “Gente de outro ver”.
Serão abordados muitos casos que tiveram a intervenção de pessoas que tiveram uma militância partidária mais intensa, como Saúl Leal, Leocádio do Vale, António João Pereira Centeio, Gabriel Feijão Coelho, António Jorge, Carlos Pinhão, José Pinhão, Manuel Colhe, Olímpio Oliveira, António Marto, António Abalada, Josué Pangaia, Francisco Presúncia Bonifácio, João Gaspar e muitos, muitos outros, mas também de oposicionistas não tão vinculados a partidos, casos do Dr. Hermínio Paciência, Renato Pinhão, Abel Pinhão e João Catarino Duarte.
Iremos também “assistir” aos conflitos surgidos entre o Dr. Raul Neves, Presidente da Câmara, com evidentes preocupações sociais e humanas e o Sargento Pires, comandante do Posto da GNR, num confronto que iria marcar momentos de grande tensão em Alpiarça.
É um livro repleto de histórias, muitas delas completamente ignoradas ou esquecidas e que o autor traz à recordação dos mais velhos e ao conhecimento dos mais novos.
Estou certo que este livro representa um marco importante para que a gente nova conheça a história dos seus antepassados e dos acontecimentos em que estiveram envolvidos.
A crítica tem sido positiva, mesmo a de nível nacional recomenda a leitura, como se pode ler pela crítica inserta no Diário de Notícias de 18 de Junho de 2005, onde se chama a atenção para o contributo que este tipo de livros dão para o esclarecimento da história local.

domingo, novembro 18, 2007

Como vos prometi à algum tempo atrás, venho falar-vos um pouco do Senhor Leocádio do Vale, que conheço desde criança e que todas a população de Alpiarça conhece.

Quando me vê, pergunta logo:
- Então ó Paula, o que já fizeste por ti hoje? Não podemos ficar parados , ouviste? Há sempre algo que podemos fazer por nós, lembra-te disso!






É realmente uma figura marcante na comunidade Alpiarcense o Sr. Leocádio.
Amado por uns, admirado por outros, e também ignorado e invejado por alguns, ele continua a sua "luta" , com um modo de vida e de ser, diferente das pessoas da sua geração. Ele próprio diz que não quer ficar á espera que a morte venha , pois ainda tem muito para aprender e fazer...

Esta é uma das obras escritas por ele " Princípios Filosóficos de Supestições e Crenças"

( o que pensarão agora, os que o prenderam? Se concerteza já nem existem porque não foram como ele é: sonhador, firme, forte, trabalhador, honesto, inteligente, amigo, aluno, professor)

( pintura da prisão, ampliar para ver melhor)

Pássaro e gaiola desenhados num postal enviado do Forte de Peniche, para o seu filho Jacinto. Um desenho que vale mais que mil palavras...

( quadro pintado na prisão)

Talvez representando um dos filhos e o seu sentido de ausência da figura paterna...


Leocádio do Vale foi o homem alpiarcense que mais tempo passou preso antes do 25 de Abril de 1974.

" Nunca sonhei com a prisão, mesmo quando estava preso. Andava sempre cá fora , quando sonhava"

( palavras ditas por ele na entrevista)



Obrigado Sr. Leocádio poe existir e por ser meu amigo, que eu sei que é. Quero sempre continuar a prender consigo todos os dias. Obrigado meu amigo.
Ana Paula
Leiam com muita atenção , o post abaixo com entrevista dada pelo Leocádio do Vale ao Jornal Voz de Alpiarça. Um pedaço da sua vida.
Passou mais de 8 anos na prisão e vários cerceado de direitos políticos mas,
NUNCA SE SENTIU PRESO MAS SIM UM SER LIVRE!
No longínquo dia 19 de Março de 1950, ainda a madrugada não tinha dado lugar à manhã, os guardiões do regime salazarista irromperam pelo número 36 da Rua Jacinto dos Mártires Falcão. Aí, na sua residência, Leocádio Teodoro do Vale, então com 26 anos, seria preso devido ao exercício de actividades subversivas”.Nesse ano eram presos trinta e um alpiarcenses, No ano em que Alfredo Lima foi atingido mortalmente por balas de um guarda da GNR.Segundo a PIDE, Leocádio do Vale (ou “Duarte”) faz parte, desde 1948, da organização clandestina “P.C.P."e é membro do Comité Local de Alpiarça.Mas ele não consegue essa precisão. Desde cachopo que se considera aderente a um movimento revolucionário, com participações em reuniões com pessoas de gerações anteriores à sua. Mais anarco-sindicalistas que comunistas. Confiavam nele.Sente a Guerra Civil de Espanha de uma forma especial, como alguns desses. Pensam em exercitar técnicas de guerrilha. É entendimento que esse maldito conflito iria transpôr a fronteira e os revolucionários deveriam estar prontos a agir, conforme as suas convicções. As de um adolescente.
Nessa sua primeira prisão ficaria cerca de 32 meses por detrás das grades ( pronunciado por crime de conspiração). Nada para que não estivesse preparado psicologicamente."Ao fazer aquela opção de vida, eu sabia ao que ia",diz-nos com firmeza. Também consciente do sofrimento com que a sua família iria passar. Mas não podia ficar alheado de tantas injustiças. “Eu não podia ter essa ideia retrógrada de ficar quieto’.
Deixava um filho com apenas 14 meses, que adoeceria gravemente, a ponto de um médico chegar a “desenganar" a Teodósia, sua companheira, que deixou de ganhar “férias”, mesmo de miséria que fossem, para ficar a cuidar da criança. Que, como outras mulheres de Alpiarça, aguentaram uma grande carga, em silêncio e a gerirem sozinhas as suas casas, porque os seus “homens” estavam presos, por pertencerem, ou serem acusados disso, a uma organização subversiva e clandestina — o Partido Comunista.Mas apesar de estar preparado psicologicamente, a prisão era sempre um grande choque, não era?
“Quando veio a minha prisão, eu já sabia o que é que havia de fazer. Tinha incutido que os pides não eram inteligentes. A sua actuação assentava essencialmente na força bruta, de maneira que tínhamos que ser mais fortes que eles. E éramos!
Passeia enfrentar as prisões e as torturas como uma fase da minha vida" (ri)
Que os seus pais não concordavam nada com ela... “Diziam que não levava a lado nenhum... mas eu, sempre curioso de saber; envolvi-me. Era uma fase que tinhamos que atravessar e vencer. Foi assim que eu fui ensinado".
Ingressa no PC.P e faz parte de uma das “células” que na altura existiam em Alpiarça. A organização clandestina cresce muito. Há alguns descuidos e mesmo “infiltrações”.Que tarefas lhe estavam atribuídas?‘Era estar-se onde estivessem pessoas. Nos ranchos, nas colectividades. Em todo o lado devíamos sentir os anseios das pessoas, aproveitar os movimentos populares para dar o enquadramento político, para apresentar as nossas propostas".
Para potenciar as lutas, o Partido Comunista abre portas (como militantes) a muitos mais trabalhadores. Houve consequências, por vezes negativas, não foi?‘Passou a ínteressar mais a quantidade que a qualidade, como era anteriormente. E quem anda à chuva molha-se".
Acaba por ser preso (precisamente por descuido de um dos seus camaradas), em Março de 1950. É levado directamente para Lisboa, sem que os esbirros dessem qualquer informação à sua companheira.
“Vi-me perdida para saber onde é que ele estava. Levaram-no daqui; tinha o Amilcar 14 meses e eu queria saber onde é que ele estava. Fui ao Posto e ninguém mo dizia. Até que houve um guarda que se compadeceu de mim e só me disse: ‘o seu marido não está aqui ". Mas também não me disse onde é que estava’ ,conta-nos Teodósia e acrescenta: “só passados uns dias é que, julgo que foi o Carlos Pinhão, sem eu saber onde o procurar, lá me indicou o nome da rua e eu lá fui para Lisboa”.
O tempo na prisão não é tempo perdido. Leocádio sempre que pode faz exercício físico. Lê, lê muito, escreve e estuda. Envolve-se em actividades onde aprende e ensina.
Em Junho de 1952 participa num levantamento de rancho, no Forte de Peniche e, com outros presos, protesta por escrito, por um seu camarada ter sido agredido.Em vésperas de poder ser solto é questionado pelo Director da Cadeia (ou Depósito de Presos, como oficialmente era denominada) sobre a sua futura conduta, caso lhe fosse concedida a liberdade.
“Não sei! Eu acabo de sair da prisão e não sei o que posso encontrar lá fora. Respondeu-me que nesse caso não me poderia deixar sair e retorqui’: A responsabilidade é sua.
Eram atitudes totalmente discricionárias. Eles não tinham nada que me apontar em termos de comportamento’.
Acabaram por libertar o Leocádio a 15 de Novembro de 1952, com liberdade condicional por 3 anos, com a condição de não acompanhar pessoas de mau porte, designadamente que professem ideias subversivas.
Vejamos excertos do Relatório do Director da Prisão (Arquivo da PIDE/DGS-IAN/TT — Q 189/50): “O seu valor político é de baixa craveira, no entanto ele julga-se num plano superior à maioria (...) empregando todo o seu tempo disponível em leitura e escrita (...). No entanto, sou de parecer que uma situação de liberdade vigiada seja mais proveitosa, aqui na Cadeia é impossível uma regeneração de pessoas desta mentalidade (...).
“Precisamente nove anos depois (a 14 de Novembro de 1961) volta a ser preso, assim como muitos outros camaradas. Ele bem tinha avisado que não comprometia as suas atitudes futuras, porque tudo tinha a ver com o que fosse encontrar lá fora". E cá , existia o mesmo de há muito:falta de liberdade, de direitos e muita repressão.
Desta vez o povo de Alpiarça reagiu e veio para a rua. " A malta já estava levantada, já ninguém tinha segurança, ninguém sabia se amanhã era presa ou não (...) quando íamos a sair do Posto em carrinhas, vinha uma multidão lá do jardim, a entrar pela rua ".
Segundo relatório da PIDE, quinze minutos após a saída dos agentes policiais e guardas da GNR, rebentaram foguetes e, de imediato, a população veio para a rua “fazendo uma gritaria infernal’, chegando-se mesmo a apedrejar a viatura da polícia e “na Rua do Casalinho, houve alguém que a coberto dos quintais (...), fez uns tiros de pistola (...) e de uma arma caçadeira” (Arquivo da PIDE/ DGS-IAN/TT— P 1038/61).
Para a PIDE eram claros os intentos dos populares em invadirem o Posto, a casa do Presidente da Câmara e a estação dos CTT, pelo “que o Comandante do Posto da GNR sentiu a necessidade de fazer alguns tiros para o ar (...)“, chegando, entretanto, reforços policiais de Santarém e Chamusca (idem).
Neste período colocaram-no (apesar de o terem achado de “baixa craveira”) na mesma sala de dirigentes ou funcionários comunistas como Dias Lourenço e Manuel Rodrigues. “Eu tinha tido bons informadores para me atirarem para um escalão mais elevado... mas não perdi nada com isso", diz-nos a rir, ao que rematámos, que no meio da desgraça, que tenha havido algo de positivo.
Leocádio corrige-nos. ‘Não foi desgraça, não considerei a prisão uma desgraça, porque eu nunca me senti preso, antes pelo contrário, senti-me sempre um ser livre’.
Dedica-se à pintura, com os ensinamentos de um médico de Coimbra, também preso. Anos mais tarde, numa exposição de pintura em Alpiarça, figuraram quadros seus, desses tempos de presídio.
Por cá, entre prisões ou depois desta última (seria libertado em 12 de Abril de 1967), desenvolve intensa actividade cultural. Participou como actor e/ou encenador em grupos de teatro, o último dos quais, o G.A.T.A.. Fez parte da secção cultural da “Música” e, como homem desejoso do saber, ainda arranjou tempo para se aperfeiçoar nas coisas da agricultura.Frequentou um curso de podador de oliveiras ministrado pelo regente agrícola Celestino Graça. António Nunes diz que o seu colega Celestino se referia aos apontamentos de Leocádio como um autêntico compêndio técnico.
Foi para Alcobaça tirar um outro curso, este mais complexo (e completo), de Agricultura Geral, com especialização em pomicultura.
Ia de bicicleta até aquela localidade e quando havia sessões de teatro, lá vinha ele, após despegar, até à terra, fazer o espectáculo.
Mal acabava a peça, montava a bicicleta e nem a casa ia. Chegava a Turquel, já com as padarias abertas, comprava pão e ia comendo, enquanto pedalava. Mais para diante, saciava a sede numa fonte. Chegava à Escola e “forrava”, porque estava o sol a nascer.
Em Março de 1974 envolve-se na luta dos tractoristas agrícolas de Alpiarça por aumento de salários.Não tivesse chegado Abril, quem sabe se não teria sido a sua terceira prisão.
Alguma vez se sentiu arrependido pelas opções tomadas, tendo em conta tudo o que passou ou por que passaram os seus familiares mais directos?
(Na gravação “ouve-se” um prolongado silêncio. Espera-se e não há resposta verbal. Leocádio, olhos nos olhos e muito sério, tinha-nos feíto um vigoroso “não” com a cabeça).
Em 2 de Abril de 2005 , a Câmara de Alpiarça condecorou Leocádio do Vale e António Jorge pelas suas lutas em prol da liberdade, Leocádio referiu então (e cito-o de memória) que “já era tarde demais, porque há uns tantos que já não estão entre nós e que lutaram com mais dedicação e competência».
É certo que muitos mais (homens e mulheres) são (foram) merecedores de reconhecimento público, mas aqueles dois alpiarcenses também o são.Após aquela data, tornámos a falar com o Leocádio e dessa conversa apenas queremos partilhar com os leitores uma sua frase acerca da medalha: ‘A Teodósia foi a outra metade da medalha".
( entrevista dada por Leocádio do Vale, ao Jornal Voz de Alpiarça em 15 de Maio de 2005 e aqui transcrito por mim, numa simples mas muito sincera homenagem)