sexta-feira, janeiro 15, 2010

Ode ao Gato


Tu e eu temos de permeio

a rebeldia que desassossega,

a matéria compulsiva dos sentidos.

Que ninguém nos dome,

que ninguém tente

reduzir-nos ao silêncio branco da cinza,

pois nós temos fôlegos largos

de vento e de névoa

para de novo nos erguermos

e, sobre o desconsolo dos escombros,

formarmos o salto

que leva à glória ou à morte,

conforme a harmonia dos astros

e a regra elementar do destino.




José Jorge Letria, in "Animália Odes aos Bichos"

imagem da net



Perdi os Meus Fantásticos Castelos

Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!


Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
- Tantos escolhos!
Quem podia vê-los?
– Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!


Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...


Sobem-me aos lábios súplicas estranhas...
Sobre o meu coração pesam montanhas...
Olho assombrada as minhas mãos vazias...




Autor:Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

foto minha



Se um Dia a Juventude Voltasse


se um dia a juventude voltasse

na pele das serpentes atravessaria toda a memória

com a língua em teus cabelos dormiria no sossego

da noite transformada em pássaro de lume cortante

como a navalha de vidro que nos sinaliza a vida


sulcaria com as unhas o medo de te perder...eu

veleiro sem madrugadas nem promessas nem riqueza

apenas um vazio sem dimensão nas algibeiras

porque só aquele que nada possui e tudo partilhou

pode devassar a noite doutros corpos inocentes

sem se ferir no esplendor breve do amor


depois... mudaria de nome de casa de cidade de rio

de noite visitaria amigos que pouco dormem e têm gatos

mas aconteça o que tem de acontecer

não estou triste não tenho projectos nem ambições

guardo a fera que segrega a insónia e solta os ventos

espalho a saliva das visões pela demorada noite

onde deambula a melancolia lunar do corpo


mas se a juventude viesse novamente do fundo de mim

com suas raízes de escamas em forma de coração

e me chegasse à boca a sombra do rosto esquecido

pegaria sem hesitações no leme do frágil barco... eu

humilde e cansado piloto

que só de te sonhar me morro de aflição



(autor: Al Berto, in 'Rumor dos Fogos' )

foto minha

terça-feira, janeiro 12, 2010

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA NA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE ALPIARÇA
DE 9 A 30 DE JANEIRO


A VISITAR NO HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DA BIBLIOTECA ( CONSULTAR O SITE)
www.alpiarca.pt/biblioteca