quinta-feira, fevereiro 12, 2009





As Sete Penas do Amor Errante

Eu não sei se os teus olhos se gaivotas

mas era o mar e a Índia já perdida

as ilhas e o azul o longe e as rotas

minha vida em pedaços repartida.


Eu não sei se o teu rosto se um navio

mas era o Tejo a mágoa a brisa o cais

meu amor a partir-se à beira-rio

em uma nau chamada nunca mais.


Eu não sei se os teus dedos se as amarras

mas era algo que partia e que ficava.

Ou talvez cordas de guitarras

ó meu amor de embarque desembarque.


Eu não sei se era amor ou se loucura

mas era ainda o verbo descobrir

ó meu amor de risco e de aventura

não sei se Ceuta ou Alcácer Quibir.


Eu não sei se era perto se distante

mas era ainda o mar desconhecido

ou Camões a penar por Violante

as sete penas do amor proibido.


Eu não sei se ventura se castigo

mas era ainda o sangue e a memória

talvez o último cantar de amigo

amor de perdição amor de glória.


Eu não sei se teu corpo se meu chão

mas era ainda a terra e o mar.

E em cada teu gesto a grande peregrinação

das sete penas do amor lusíada.



Manuel Alegre, in "Atlântico"
imagem tirada da net

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Gosto imenso da poesia de Manuel Alegre! Foi bonito ler este poema agora e aqui. Obrigada. Muitos beijos para ti.

Maria disse...

Belo momento que passei aqui.
Obrigada.

Um beijo, Paula