21 DE MARÇO / DIA MUNDIAL DA POESIA

se um dia eu não souber dizer o teu nome
se um dia eu o esquecer
e a saliva se cristalizar no zelo
se um dia eu não te achar
e no entanto te procurar
com desespero
um dia e tu não estiveres
se um dia a minha boca não alargar
e as minhas mãos não se fecharem
e abanarem
se um dia eu me sentar no pó
e o pó se sentar em cima de mim
e eu arquejar
se um dia eu deixar de esperar não sei bem o quê
e me quedar à espera de que a espera acabe
um dia as palavras me atravessem e
eu já não souber a beleza delas
e o perfume
se um dia tudo o que for for
a mais
e o resto
e dizer não seja justificar
se um dia eu voltar a ler isto
e isto tiver um sentido
se num dia eu fechar os olhos e ao fechar
os olhos o teu rosto
não
não aparecer definido
definitivo
e ao pestanejar
a sucessão de imagens for
alternante de preto com preto
preto
preto
se um dia a noite seja de pedra
for os meus olhos camuflados então
sólidos
liquefeitos
se um dia as lágrimas correrem devagar
e secarem no caminho e
cavarem fendas
e
a minha pele seja de água
e dos pulmões não nascerem guelras
e sufocar
se do fundo
se no fundo
fundo
bem lá no fundo
eu
um dia
não te souber nomear
vou fechar os olhos gritar
Amor
e esperar que
onde estiveres
reconheças
o nome que te escolhi muito antes de nasceres
quando eu era aquela parte
que arrancaram de ti
e tu
eras a amante de narciso
Autor: João Moita ( poeta alpiarcense)
1 comentário:
Obrigada pela partilha de tão magnífico poema!! Adorei. Beijos para o Poeta e para ti, Ana Paula.
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