terça-feira, março 10, 2009



FALA DO HOMEM NASCIDO




(Chega à boca de cena e diz:)


Venho da terra assombrada,


do ventre da minha mãe;


não pretendo roubar nada


nem fazer mal a ninguém.




Só quero o que me é devido


por me trazerem aqui,


que eu nem sequer fui ouvido


no acto de que nasci.




Trago boca para comer


e olhos para desejar.


Com licença, quero passar,


tenho pressa de viver.




Com licença! Com licença!


Que a vida é a água a correr.


Venho do fundo do tempo;


não tenho tempo a perder.




Minha barca aparelhada


solta o pano rumo ao norte;


meu desejo é passaporte


para a fronteira fechada.




Não há ventos que não prestem


nem marés que não convenham,


nem forças que me molestem,


correntes que me detenham.




Quero eu e a Natureza,


que a Natureza sou eu,


a as forças da Natureza


nunca ninguém as venceu.




Com licença! Com licença!


Que a barca se faz ao mar.


Não há poder que me vença.


Mesmo morto hei-de passar.




Com licença! Com licença!


Com rumo à estrela polar.



Autor: António Gedeão


imagem da net

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