JOAQUIM JORGE / ALPIARCENSE,
JORNALEIRO, REFORMADO
Esta é a minha modesta mas sentida homenagem a todos os homens Trabalhadores Rurais de Alpiarça. Antigamente eram chamados de Jornaleiros, pois trabalhavam à jorna, quer isto dizer, contratados numa praça onde se encontravam trabalhadores e agricultores e onde era licitado o dinheiro que iriam ganhar como salário. Era assim que se procedia antes do 25 de Abril por terras do Ribatejo. O meu pai faz parte desses homens que trabalhavam a terras e conduziam as carroças e as mulas, por esses campos fora. Foram tempos difíceis esses ...
Faça sol ou faça chuva, o trabalho dos campos tem de ser feito. Quando criança, nunca frequentou a escola, pois tinha que ajudar os pais e foi colocado a trabalhar muito cedo ( hoje seria considerado exploração infantil), mas no tempo de Salazar tudo era possível e só os ricos iam para a escola.
Eram cinco irmãos ( um já falecido) e o avô Quim, (como é chamado carinhosamente pelo neto mais pequenito) era o filho mais velho.
O meu pai sempre foi dono de uma saúde frágil, mas nunca parou de trabalhar, pois tinha quatro filhos para criar . A minha mãe como doméstica, estava em casa a criar os filhos, sabes Deus com que dificuldades...
Hoje o meu pai é reformado com uma pensão de duzentos e poucos euros , depois de uma vida de trabalho duro, onde grande parte dessa pensão, vai para os medicamentos que tem de comprar ( uma miséria).
Quando se reformou decidiu não parar, pois o dinheiro era pouco e arranjou uma banca no Mercado, começou a vender as suas plantas e hortaliças criadas biológicamente, sem químicos ou pesticidas, da sua horta.
É uma história de vida muito resumida e se fosse aqui toda contada, daria um livro ou um filme.
Assim tem sido a vida do Joaquim Jorge, nascido em 1923, hoje com 85 anos, pai de quatro filhos, numerosos netos e netas e já alguns bisnetos. Uma vida simples , feliz apesar das dificuldades, mas um lutador. Ao meu Pai e aos homens que trabalham a terra dos campos de Alpiarça, como ele, a minha Homenagem.
A cumplicidade de uma vida a dois que já dura 65 anos
O Joaquim e a Joaquina
Nunca pára, pois há sempre alguma coisa para fazer na horta
Vai dar folhas de couve ao coelhitos
Adorava ir às Feiras e tirar uma fotografia à la minute com os filhos ( aqui com meu irmão mais velho, Rui agora com 66 anos)
Aqui eu tinha 10 anitos
Aqui eu tinha 6 anitos
O avô Joaquim com os seu 48 anos, muito charmoso, não acham?
Antes do 25 de Abril aqui em Alpiarça haviam as Festas das Vindimas, onde se desfilava em cortejo, com carroças carregadas de dornas de uvas , oferecidas pelos agricultores à Santa Casa da Misericórdia . O meu pai conduz a carroça da frente.
Apesar da vida dura que levou, sempre a viveu de forma intensa e dedicada.
2 comentários:
Admirável, Ana Paula!
Como eu gostei de reviver os anos de Alpiarça. Seu pai cruzou-se comigo, muitas vezes, com certeza, por aquelas ruas onde vivi até aos 18 anos.
Lembro bem as festas das vindimas, os cortejos, as quermesses na Misericórdia ( em que trabalhei alguns anos, sob a orientação da D. Basilisa, que felizmente ainda é viva).
Esses homens, heróis de um quotidiano duro, como eu os admiro.
Alpiarça, terra vigiada pela PIDE, terra perseguida, porque muitos não se vergavam ao egoísmo feroz dos latifundiários.
Obrigado, Ana, por esta partilha.
Quando puder, vá continuando estas crónicas do quotidiano...
Abraço conterrâneo!
bela recolha de fotos de familiares e de amigos...parabéns!
bjs.
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